quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O PODER DA TV E O MORTO AINDA QUENTE


Sempre questionei o poder da TV. Mas que há uma força descomunal nesse aparelho que tomou conta dos nossos lares, virou a janela pro mundo, alí na nossa sala, mesmo sem nenhuma...ah, isso há! A TV é tudo alí , de graça, pra você e sua família terem ao toque de um botão:entretenimento, lazer, jornalismo, humor, cultura, novela, filmes, séries, desenhos...Nossa, como é poderosa essa TV!! Teatros no mundo a acusam de furtar seus espectadores (até porque a TV inventou o TELEspectadores), as salas de cinema também jogam pedra na telinha, inclusive diminuindo seus tamanhos para se adequarem aos novos tempos. No cinema a tela é grande, mas platéias pequenas. Com a TV aconteceu justamente o contrário: a platéia é pequena, mas as telas se agigantaram, se digitalizaram. Tudo pra prender o cara em casa. Aí, tudo foi inventado em função dessa máxima: Fique em casa! Tem delivery de tudo hoje em dia! O controle remoto foi inventado e os sofás ficaram mais aconchegantes. Canais pagos agora. 60, 120, 200? Tudo pra não tirar você de casa. E as conversas sempre giram em torno da TV. É o programa do Gugu, o jogo de futebol, a vilã da novela morre-ou-não-morre? As pessoas sabem mais do universo da telinha do que o que acontece na porta ao lado da sua. Uma grande invenção, sem dúvida. Algumas vezes mal usada, apelativa e jocosa, outras poucas vezes, cultural e educativa a TV foi pouco a pouco ganhando espaço (literalmente) na sala, nos quartos, na cozinha, no banheiro. Estar na TV é estar num outro universo...A TV dita moda, modismos, manias e maneirismos. Aparecer na TV já foi coisa de poucos, hoje, na era BBB qualquer pessoa é estimulada a querer aparecer na TV de um forma ou de outra. É a briga pela auto-audiência, o self marketing. Há pouco tempo só quem realemente tinha talento ia pra TV, que era, cheia de exigências. Tarcisio Meira, Glória Menezes, Tony Ramos, Arlete Sales eram parte dessa exigência da TV: Talento acima de tudo. Hoje qualquer Siri, Alemão, FofaBosta tá lá na telinha que tá virando telona mostrando todos os detalhes, por isso a TV de hoje não cabe imperfeição. Só naqueles programas trash de fabricadas brigas de casais. Enquanto se glorificava através do tempo, a TV foi banalizando a morte. Filmes, cadaveres, gente morta em novela, assassinato. Isso foi fazendo com que a população achasse mais fácil morrer. Aceitasse a morte de uma forma inversa. A TV foi ficando invasiva, agressiva e hostil. Pra ganhar o jogo da audiência fácil sai o Vila Sésamo e entram as lourinhas gostosas mostrando além de desenhos, as libido que tanto tentaram esconder das crianças. A busca pela audiência fez a tv ficar mais apelativa, mais crua, menos glamourosa ao ponto nem respeitar por exemplo, a morte de uma pessoa por assassinato ou atropelamento. É preciso além dos detalhes sórdidos de um acidente a fala de alguém da família.Tudo pelo resultado do Ibope. Então tá lá o corpo estendido no chão, ainda quente, e o marido/esposa/filho/parente dando um depoimento frio sobre o que havia acontecido.Se chorar, super close. Se não, a logomarca da emissora no cubo do microfone.O luto virou fade. Corta pro apresentador chamando pra daqui a pouco um canguru escapando de carros de corrida na Austrália. Fim dos tempos? Talvez.Agora respondam: Por que o marido/esposa/filho/parente deu aquele depoimento com o corpo ainda nem no caixão? Porque a TV invadiu a vida privada dele ou porque no fundo-no-fundo o marido/esposa/filho/parente queria aqueles tão famosos 15 segundos de Fama?

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