sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O MERCADO CENTRAL FOI REFORMADO, MAS QUEM REFORMA O COMPORTAMENTO DO FEIRANTE?


Lembro-me quando moleque, minha mãe nos obrigava a ir fazer a feira no Mercado Central. Íamos eu e meu irmão, duas pequenas mulas humanas carregar feira pra ela. Eu não gostava de ir, primeiro por ter que virar mula e segundo pela sujeira enorme que tinha lá. Isso no inicio dos anos 70. Mesmo criança, pensava comigo: “como pode um lugar que vende a comida da gente ser tão sujo?”. Aquilo me causava indignação!

Há quase dez anos moro no Edf. Caricé, no centro de João Pessoa e claro, perto do Mercado. Quando cheguei aqui, o Mercado Central ainda era uma favela-feira-à-céu-aberto. Eu entrava na maquina do tempo. O Mercado continuava sujo, imundo, tal qual minha mãe obrigava a ir. Mas agora não sei por que, pior. A sujeira estava estampada na aura das pessoas, na alma delas, como se impregnado. Depois descobri que aquela sujeira na alma do povo do Mercado não era à toa: Ali, além de frutas e comida, vendia-se sexo, cachaça e drogas. Ao invés de sair, aquela sujeira que vi na infância tinha penetrado nas pessoas de formas várias.

Na gestão do ex-prefeito Ricardo Coutinho conseguiu-se fazer o milagre da reforma do Mercado Central, inspirado nos resultados bem sucedidos dos mercados públicos de Belo Horizonte e de São Paulo. Depois de quase meio século o nosso Mercado foi reformado, mas...Quem reforma a cabeça do feirante?

De fato, é comum ver ainda hoje os pequenos focos de sujeira, aparecendo mais rápido do que as vassouras da EMLUR. De onde vem isso? Ora, o feirante que sempre esteve no meio da sujeira ainda não se desgarrou dela. Caminhando pelas novas alamedas, agora cobertas, protegendo da chuva e do sol a gente vê restos de comida no chão, palhas de feijão verde, alimentos estragados, gatos e cachorros disputando restos de comida, mas tudo causado pelos feirantes. Claro, não são todos. Há aqueles que entenderam a mensagem da prefeitura e sabem do beneficio que lhes foi dado. Mas muitos não. Muitos não se acostumaram com aquilo e em um condicionamento “pavloviano” tornam a sujar o mercado pelas próprias mãos. Ora, a gente vê “novos ricos” e seus carrões importados nas ruas jogando lixo pelas janelas, imagine um pobre coitado e sua geração que cresceu na sujeira? Fisicamente a reforma do Mercado Central é um dos maiores pontos positivos da administração centrada e correta que a gestão de Ricardo Coutinho fez, mas, quem vai mudar o comportamento do feirante? Será que ele se toca disso? Será que ele vai entender que quando faz os seus “puxadinhos” de engradados na frente do seu novo box, ele diminui o tamanho do corredor? Será que ele vai esperar sempre pelas vassouras da EMLUR?

Mas isso é dessa humanidade moderna. Não reciclamos o nosso lixo, jogamos sujeiras nas praias, cortamos árvores indiscriminadamente, emitimos gases poluentes...enfim!

Demorou uns 50 anos pra o Mercado Central ter sido reformado. Mas, na minha vã esperança, vai demorar mais um bom tempo pra o feirante ter consciência de que trabalhar com comida e limpeza é fundamental.